De vez em quando deparo-me com uma questão incomodativa para qualquer homem: a simulação do orgasmo.
E afirmo-a incomodativa com toda a propriedade, pois sinto-a como um arrepio a cada slide que passo na minha memória enquanto lhe decalco um sinistro ponto de interrogação.
É que parece ser algo bastante comum, um dos mais badalados recursos manhosos dos verdadeiros canivetes suíços que são os cérebros femininos.
Na cama, a maioria de nós gajos joga ao ataque e só nos sentimos vencedores quando conseguimos marcar um golo. Se descobrimos que afinal era falso alarme sentimo-nos tão defraudados como se nos tivessem roubado a vitória num golpe de teatro na secretaria.
E esta do teatro é mesmo intencional, pois existem as que se afirmam peritas nesta arte de talião de alcova (embora um gajo acabe por desconfiar que o são quase todas) e a anatomia facilita-lhes a actuação enquanto num gajo até os pelos do cu batem palmas na plateia do faz de conta.
A coisa faz-me confusão sob vários pontos de vista.
Vista de cima soa de imediato a trapaça, a vigarice, quase uma traição.
Vista de baixo ocorre o contra-senso entre a popular queixa da despedida precoce (é tão bom não foi?) e a necessidade de fingir o êxtase só para correr com o bacano de cima.
Mas seja vista de lado, de esguelha, ou por detrás a coisa afigura-se sempre como uma manifestação de um poder feminino que um gajo só deseja ver pelas costas…
Claro que a culpa é dos gajos, esses maníacos da gritaria que parecem movidos pela energia dos gemidos e só abrandam o vaivém quando o clímax se manifesta em conformidade com a artista. Verdadeiro ou não, para alguns é uma satisfação complementar à que se predispõem usufruir só depois desse fogo de artifício (os que se aguentam à bronca com o barulho das luzes anterior).
E esta do artifício também não aterra por acaso nesta prosa de protesto contra a divulgação pública desse talento que tanto nos embaraça (os que não se estão nas tintas para o golo e contentam-se com um empate – ninguém sai a perder - num jogo recheado de boas oportunidades para rematar à baliza).
Porque afinal quando incluímos este argumento na conversa, as gajas são lixadas, uma pessoa vê-se confrontada com um súbito abrandar na aceleração entusiástica rumo ao seu guiness pessoal, o contador de proezas, e nem sempre o orgulho se lembra de apertar o cinto de segurança. É vê-lo, dissimulado por detrás de um riso amarelo, a aproximar-se em câmara lenta do pára-brisas e acabar por se esborrachar nessa dura e penosa constatação que, ainda por cima, se basta enquanto simples motivadora da dúvida.
Estou solidário para com todos os machos da espécie vítimas desta fraude que desaba nas cabeças (de burro) com o peso de um céu.
Eu sinto-me (algo) confiante (mais ou menos, assim-assim), pela (relativa) certeza de que (se calhar) comigo (provavelmente, penso que) nunca aconteceu...
By sharkinho
https://www.youtube.com/watch?v=idkKy6mrKTs