O ÓBVIO
Em uma escola muito heterogênea, onde estudam alunos de várias classes sociais, durante uma aula de português, a professora pergunta:
- Qual é o significado da palavra "óbvio"?
Rapidamente, Marcílio II, rico, um dos mais aplicados alunos da classe, que estava sempre muito bem vestido, cheiroso e bem bonito, respondeu:
- Prezada professora, hoje acordei bem cedo, ao raiar da alva, depois de uma ótima noite de sono no conforto de meu quarto particular. Desci a enorme escadaria de nossa humilde residência e me dirigi à copa onde era servido o café. Depois de deliciar-me com as mais apetitosas iguarias, fui até a janela que dá vista para o jardim de entrada e admirei aquela bela paisagem por alguns minutos, enquanto pensava como é agradável e belo o viver. Virando-me um pouco, percebi que se encontrava guardado na garagem o automóvel BMW pertencente a meu pai.
Pensei com meus botões: "É ÓBVIO que meu pai foi ao trabalho de Mercedes". Sem querer ficar para trás, Guilherme, de uma família de classe média, acrescentou:
- Professora, hoje eu não dormi muito bem, porque meu colchão é meio duro. Mas eu consegui acordar assim mesmo, porque pus o despertador do lado da cama para tocar cedo. Levantei meio zonzo, comi um pão meio muxibento e tomei café.
Quando saí para a escola, vi que o fusca do papai estava na garagem. Imaginei: "É ÓBVIO que o papai foi trabalhar de ônibus". Embalado na conversa, José, de classe baixa, também quis responder:
- Fessora, oje eu quase num drumí, pusquê teve tiroteio inté tarde na favela. Só acordei di manhã pusquê tava morreno di fome, mas num tinha nada pra cumê mesmo... quando oiei pela janela du barracão, vi a minha vó cum jornal dibaxo du braço e pensei: "É ÓBVIO qui ela vai cagá. Num sabe lê!"