Quantas vezes te imaginei nas minhas horas vazias em que tu chegavas de mansinho e sem uma palavra me concedias um tempo no paraíso dos sentidos, fechava os olhos para melhor sentir as tuas mãos presas nas minhas, arrepiando a minha pele como uma onda de água salgada. Apertava os meus braços contra o peito, num abraço quente em que te prendia com força e onde sei que te sentes segura e protegida…
Quantas vezes ouvi no silêncio que se fazia o som da tua voz calada nos meus ouvidos, murmurando palavras sem nexo mas que em cada suspiro fazia estremecer todo o meu ser num grito abafado de tanto te querer…E sentia-me embalado pelos lábios húmidos que beijavam os meus com pressa de provar. Quantas vezes depois da noite silenciar o dia, vinhas vestida de escuridão e ocupavas todo o espaço à minha volta, deixavas-me despido ao teu olhar, com a alma aberta aos teus sentidos, o corpo ao teu desejo e o coração ao teu carinho. E tantas vezes, guiado pelas emoções, escondido dos caminhos da vida, me perdi nessas horas vazias, apenas inventando-te em cada segundo, em cada emoção, em cada desejo…
Tracei linhas imaginadas pelo teu corpo ausente, escrevi rimas de loucuras no incêndio da pele que não tocava, saciei a sede dos beijos nos lábios áridos sem a suave humidade dos teus. Quantas vezes pintei uma tela onde todos os sentidos se conjugavam num só e tantas vezes fugi dele para não sentir a dor de ver o dia nascer e perder-te nos raios de sol que inevitavelmente viriam buscar-te à minha ilusão, dessa noite perfeita…
Tantas vezes, foste apenas minha…