Imagine, leitor brasileiro, como seria se, num passe de mágica, você pudesse viver um dia da sua vida em Portugal. Ou seja, de um momento para outro viver um dia à portuguesa.
Pensa que seria fácil?
O problema é que mesmo as coisas simples no dia-a-dia exigiriam uma adaptação. Ou, talvez, até mesmo um intérprete.
O que vem a seguir é uma descrição do que seria um dia em terras lusas. Acha que conseguiria safar-se? Por via das dúvidas, as palavras diferentes estão numeradas e os significados no final do texto. O significado de algumas é fácil depreender. Outras, nem tanto.
Vamos imaginar como seria o dia de um brazuca em Portugal.
Logo ao acordar pela manhã, enquanto veste as peúgas (1) e aperta os atacadores (2), você ouve na telefonia (3) o aviso de que o trânsito está virado num oito (4).
É que houve um toque (5) entre uma carrinha e um TIR (6) e, apesar de os socorristas já terem retirado os veículos para a berma (7), há ainda alguns troços (8) condicionados, onde os condutores (9) permanecem no pára-arranca (10).
Há bichas (11) por todos os lados e talvez as melhores alternativas sejam o autocarro (12) ou o comboio (13).
Você toma o último gole da sua bica (14), termina o pequeno-almoço (15) e, como tem que levar os putos (16) ao infantário (17), a única hipótese é mesmo ir de cu-tremido (18). Depois de uma seca (19) de quase três quartos de hora (os portugueses medem o tempo por quartos de hora) no trânsito, finalmente chega ao trabalho e logo recebe uma ligação.
A telefonista avisa que para atender a chamada na sua extensão (20) tem que carregar (21) no botão. Do outro lado da linha está a sua mulher a lembrar que é a semana de pagar a mulher-a-dias (22) e pede que passe no multibanco (23) para levantar (24) dinheiro, porque o livro de cheques (25) acabou.
Você vai ligar o computador e tem um post-it pregado no ecrã (26). Logo percebe que vai ficar entalado (27). É um recado do seu chefe a avisar que hoje não vem trabalhar. Quer dizer: ele se baldou (28) e você tem que resolver os todos problemas.
Depois de um intensa azáfama (29), lá pelo final da manhã a barriga já está a dar horas (30). Mas ao invés de ir almoçar à tasca (31) de todos os dias, prefere comer apenas uma sandes (32) no “snack” (33) da esquina. É que assim tem mais tempo para ir até o pronto-a-vestir (34) comprar a prenda de anos (35) da mulher. Fica indeciso entre um fato-de-treino (36) e umas cuequinhas (37) de renda mesmo a matar (38). Mas acaba por levar uma camisola (39) em xadrez castanho e encarnado que estava na “montra” (40).
Ao final do expediente, você está com os azeites (41) e, para complicar, o trânsito está novamente um caos. Então só lhe resta pegar no telemóvel (42) e avisar a sua mulher que vai demorar a chegar. É o cabo dos trabalhos (43).
Bem... o dia ainda não acabou, mas a esta altura você já deve estar convencido de que precisa mesmo de um intérprete. Ou não?
DICIONÁRIO
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